XADREZ NA ESCOLA - A socialização através do jogo (Exclusivo Internet) PDF Imprimir E-mail

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Por Rogério de Melo Grillo*


 O xadrez é um jogo muito antigo que surgiu a partir do jogo indiano chamado de shaturanga. A Pérsia foi à primeira nação do xadrez, ela que foi a responsável pela criação deste e quando foi invadida pelos árabes, estes levaram o jogo para a Europa durante a invasão do islamismo. Na Europa, o xadrez tornou-se o jogo que é hoje.
Como o xadrez é um jogo de raciocínio, ele foi definido como esporte intelectual que se baseia em três elementos: jogo-arte-ciência. Jogo porque requer habilidade, arte por causa da imaginação e ciência devido ao cálculo. Apesar desta definição, muitos consideram o xadrez como um jogo matemático que tem como objetivo deixar seus praticantes mais inteligentes e melhores no cálculo matemático. De fato o xadrez auxilia no cálculo, porém não se deve esquecer que como todo jogo com regras, o xadrez tem um grande valor sócio-educativo, pois promove a inclusão, a interação e a socialização do aluno com o meio. Matheus (2008) explica que a prática do jogo implica no exercício da sociabilidade, autoconfiança, do raciocínio analítico e sintético e até mesmo da organização estratégica do estudo, o que acaba inclusive auxiliando na melhora do rendimento escolar, principalmente em termos de concentração.
Quando o xadrez foi implantado na grade curricular no município de Passos/MG em 2005, muito se falou sobre qual é a real importância do jogo para os alunos. Alguns chegaram a falar que o jogo deixa o aluno mais inteligente, outros já falaram que ele faz com que a criança aprenda melhor a matemática e alguns pessimistas em relação ao assunto chegaram a afirmar que o xadrez era apenas mais um desporto oferecido pela escola visando torneios e nada mais. Não só no município, mas também em outros lugares o xadrez é visto desta maneira. Poucos sabem qual sua verdadeira importância dentro da escola. Os docentes contrariaram as afirmações feitas em relação à inclusão do xadrez na escola e defenderam o xadrez como sendo importante para o raciocínio, concentração, atenção e cálculo, ambos os valores cognitivos importantes para a formação acadêmica. Estes valores são de suma importância, mas não deve se esquecer que além do cognitivo, o jogo também trabalha o lado social do aluno, outro valor de grande importância para a formação do indivíduo.  
Analisando o xadrez por seu lado pedagógico nota-se que em uma partida há comunhão entre raciocínio, cálculo, desafio, respeito, aventura e interação. Além destes fatores, o jogo contribui para a aceitação de normas e resultados, formação de caráter, controle emocional, facilidade de expressão, aceitação de novas idéias e diferentes pontos de vista, valores importantes na formação do aluno, auxiliando-o na conscientização sobre suas ações e com isso este aprende a distinção entre o certo e o errado, além de levar estes valores para seu cotidiano, o que contribui para a formação do seu EU. O aluno quando participa de jogos de regras, este tem por característica abandonar a arbitrariedade que governava seus jogos para adaptar-se a um código comum, podendo ser criado por iniciativa própria ou por outras pessoas, mas que deverá acatar limites porque a violação das regras traz consigo uma punição. Isto ajudará a criança a aceitar o ponto de vista das demais, a limitar sua própria liberdade em favor dos outros, a ceder, a discutir e a compreender. Quando se praticam jogos de grupo a experiência se engrandece já que a sociabilidade é agregada à vida da criança, surgindo assim os primeiros sentimentos morais e a consciência de grupo. Quando a criança joga compromete toda sua personalidade, não o faz para passar o tempo. Podemos dizer, sem dúvida, que o jogo é o “trabalho” da infância ao qual a criança dedica-se com prazer. Pode-se perceber através do que foi exposto o valor educativo que a prática lúdica do xadrez possui.
Grandes mestres do xadrez como o brasileiro Gilberto Milos Jr., a mestra colombiana Adriana Salazar Váron e estudiosos do xadrez como Antônio Villar Marques de Sá, Wilson da Silva e Sylvio Rezende defendem a importância do xadrez como instrumento pedagógico devendo ser incluído como conteúdo escolar obrigatório devido a sua gama variada de conteúdos, incluindo seus benefícios sócio-educativos. O comportamento, a auto-estima, a tomada de decisões, os valores éticos, o respeito, a humildade, a paciência, o saber ganhar e perder e principalmente a interação entre os jogadores fazem parte do lado social do jogo, fatores essenciais para a formação humana do aluno. Sylvio Rezende em seu livro “Xadrez na Escola” defende que todo jogo dotado de regras contribui para a formação sócio-afetiva do aluno, portanto como o xadrez é um jogo com regras específicas pode se concluir que este tem grande influência social. Adriana Salazar ainda ressalta a influência do xadrez nas relações familiares mostrando que o jogo melhora relações entre pais e filhos.
Pesquisas de campo foram feitas a fim de analisar o xadrez mais afundo e constatar seus reais benefícios dentro da escola. A princípio sua implantação na escola foi através de clubes de xadrez, porém neste só participava um seleto time que tinha como ponto forte o treinamento visando torneios. Em 1976 o psicólogo Dr. Johan Christiaen constatou através de uma pesquisa de campo que quem joga regularmente o xadrez tem rendimento acadêmico 13,5% superior aos demais alunos e consequentemente socializa melhor. A partir destas pesquisas, outros estudiosos como o Dr. Joyce Brown que em 1981 constatou em seus estudos que o xadrez tem grande influência na formação social do aluno, principalmente no comportamento, tanto que ele comprovou que o jogo contribui com 60% na diminuição de suspensões e incidentes, ainda provou que este melhora a auto-estima em 55%. Em cima destas pesquisas, outros estudiosos começaram então a pesquisar formas de implantação do xadrez no conteúdo escolar, com isto o jogo começou a ser praticado de uma minoria para uma maioria.
 A partir disto observa-se que o xadrez é de grande importância para a formação social do aluno, pois trabalha com sua auto-estima, seu comportamento e o ajuda na sua interação e integração com o meio. Pode-se analisar também que o xadrez evoluiu de jogo estritamente restrito ao treinamento para um jogo voltado para o lúdico e também para o lado sócio-afetivo do aluno.


*Professor Especialista em Educação Física Escolar e Psicomotricista
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